Livros de 2020
Sem nenhuma ordem em particular, relembro os favoritos de 2020:
Sete minutos depois da meia-noite de Patrick Ness a partir de uma ideia original de Siobhan Dowd
“There is not always a good guy. Nor is there always a bad one. Most people are somewhere in between.”
O último livro que li para a iniciativa Livro Secreto foi um dos que mais gostei. Foi muito fácil identificar-me com qualquer uma das personagens, com os seus medos, angústias e alegrias. Um livro difícil por me relembrar do medo da perda, do desconhecido, dos nossos pensamentos. Uma história pesada e triste, mas ainda assim, de uma beleza singular e com uma pontada de esperança.
Kudos de Rachel Cusk
“What is history other than memory without pain?”
A trilogia acaba em Kudos, mas a ordem é irrelevante, como também são irrelevantes a história, os lugares, e as personagens. Só interessam os pensamentos e diálogos, especialmente sobre a memória e a história pessoal, sobre o passado e como nos enganamos constantemente, especialmente a nós próprios.
Distância de Segurança de Samanta Schweblin
“Yo siempre pienso en el peor de los casos. Ahora mismo estoy calculando cuánto tardaría en salir corriendo del coche y llegar hasta Nina si ella corriera de pronto hasta la pileta y se tirara. Lo llamo “distancia de rescate”, así llamo a esa distancia variable que me separa de mi hija y me paso la mitad del día calculándola, aunque siempre arriesgo más de lo que debería.”
Lido em Fevereiro, de uma só vez, com uma sensação de urgência, de ansiedade pelo desconhecido, de pressão constante. Mal sabia eu que todos iríamos conhecer isso diariamente nos meses seguintes. A premissa não é complexa, mas os temas que toca são tudo menos simples. Este livro perturbou-me e sei que irei voltar às inquietações que levanta várias vezes.
A Ideia de Europa de George Steiner
“A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. (…) Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da “ideia de Europa””.
No ano em que Steiner morreu, reli “A Ideia de Europa”. Uma ideia que tem vindo a mudar, nem sempre para melhor, mas ainda assim cheia de oportunidades para (re)construir, especialmente pelos que nela acreditam.
The Memory Police de Yōko Ogawa
“Maybe there’s a place out there where people whose hearts aren’t empty can go on living.”
Sem me ter apercebido, 2020 foi um ano em que li muito sobre a memória. The Memory Police foi um dos melhores e irá ter direito à sua própria newsletter. Num sítio sem nome, objectos começam a desaparecer. Não só os objectos, mas também as memórias, até que já ninguém saiba bem o que esteve ali. Quem ou o que fazem as coisas desaparecer? O que irá desaparecer a seguir? O que somos sem memória?
A Gorda de Isabela Figueiredo
“Por vezes considero que perdi muito tempo, no passado, desgostando de mim, mas reformulo a ideia concluindo que o tempo perdido é tão verdadeiramente vivido na perdição como o que se pensa ter ganho na possessão.”
O meu primeiro ebook. O primeiro livro que li desta autora portuguesa. Mais uma reflexão sobre nós, a identidade, o corpo e a solidão com a Lisboa pós regresso das colónias como pano de fundo.
Functional art de Alberto Cairo
“The life of a visual communicator should be one of systematic and exciting intellectual chaos.”
Uma excelente introdução ao mundo do design de informação.
My Sister, the Serial Killer de Oyinkan Braithwaite
“It takes a whole lot longer to dispose of a body than to dispose of a soul, especially if you don’t want to leave any evidence of foul play.”
Um livro divertido sobre duas irmãs completamente diferentes, mas nenhuma tão inocente como se poderia pensar.
Averno de Louise Glück
“You get on a train, you disappear.
You write your name on the window, you disappear.
There are places like this everywhere,
places you enter as a young girl
from which you never return.”
“death cannot harm me
more than you have harmed me,
my beloved life.”
Não conhecia Louise Glück, a vencedora do Prémio Nobel. Também não costumo ler poesia. Este livro mostrou-me que vale sempre a pena ler autores dos quais nunca ouvimos falar.
A desilusão do ano: A Vida Mentirosa dos Adultos de Elena Ferrante. Mais um para a saga “talvez não devamos voltar onde já fomos felizes.”
*Photo by Laura Kapfer on Unsplash